A educação, em qualquer de suas manifestações, é antes de tudo, uma atividade social que não pode dar-se a margem de algumas relações interpessoais estruturadas. No ambiente escolar existem duas fontes de relação interpessoal: a que se refere à relação entre o professor e os alunos e, outra, que diz respeito ao relacionamento dos alunos entre si. Dessa forma a psicologia social contemporânea atribui importância à cognição e aos processos cognitivos. Assim para compreender a interação entre o professor e o aluno alem de observar seus comportamentos manifestos e observáveis é preciso também observar as cognições associadas às mesmas.
1. Origem e construção das representações professor/aluno.
A representação que o professor possui de seus alunos, o que pensa e espera deles, as intenções e capacidades que lhes atribui, não somente é um filtro que leva a interpretar de uma ou de outra maneira o que fazem, a valorizar de um ou de outro modo às aprendizagens que realizam, a reagir de forma diferente ante seus progressos e dificuldades, mas que pode chegar, inclusive, em certas ocasiões, a modificar o comportamento real dos alunos na direção das expectativas associadas a tal representação.
A impressão inicial que surge do primeiro encontro professor- aluno, não é contudo, tributária unicamente da observação mútua. Muito freqüentemente quando os alunos encontram o professor pela primeira vez na sala de aula já receberam de outros colegas informações previas, algo similar ocorre com o professor sobre o grupo de alunos e em determinadas situações sobre algum aluno individualmente.
A informação recebida serve para construir uma impressão inicial, esta pode ter influencia inegável e em alguns casos decisiva para o tipo de relação que vai se estabelecer entre professor e aluno. Na vida quotidiana que se desenvolve na aula surge a observação mútua continuada, que pode reforçar a impressão inicial, porem também modificá-la completamente. É evidente que na formação da primeira impressão nem o professor nem o aluno podem atender simultaneamente a todas as informações que lhes proporciona a observação mútua direta. Ambos levam a cabo uma seleção e categorização das características do outro. No caso da representação que os professores têm de seus alunos o processo de seleção e categorização foram referidos ao conceito do aluno ideal que cada professor constrói no decorrer de sua experiência.
2. Expectativas dos professores e rendimento escolar.
Os professores podem transmitir involuntariamente suas expectativas aos seus alunos, de tal maneira que o comportamento efetivo deste ultimo é modificado. Os alunos vão aprender mais e melhor, vão obter melhores resultados escolares, quando o professor espera que assim aconteça.
2.1 O efeito pigmaleão e as profecias de auto cumprimento dos professores Os alunos com relação aos quais os professores tinham maiores expectativas de rendimento são efetivamente os que realizavam maiores progressos. As expectativas dos professores sobre o rendimento de seus alunos podem chegar a afetar significativamente o rendimento efetivo destes últimos. Expectativa sobre os efeitos das expectativas: os avantes de uma polêmica
2.2- Calier e Gottesdiner (1975) concluem a revisão de uma série de pesquisas mostrando que não foi possível replicar seus resultados, visto que somente em dois dos trabalhos revisados foi possível mostrar o efeito positivo das expectativas dos professores sobre o rendimento dos alunos. A revisão de Rogers (1987), mais recente e de maior alcance, constata d novo as dificuldades encontradas por numerosos pesquisadores para explicar os resultados originais de Rosenthal e Jacobson e supõe um toque de atenção sobre a suposta universalidade dos efeitos das expectativas e seu funcionamento mais ou menos direto e imediato. Os efeitos das expectativas doa professores sobre o rendimento de seus alunos são uma realidade nas salas de aula mas sua existência ou não, em caso particular, seu funcionamento, a amplitude dos efeitos dependem de mecanismos complexos. Expectativas dos professores, tratamento educativo e reações dos alunos: rumo a um modelo integrador Entre estas tentativas destaca-se a protagonizada por Gilly (1980), que propôs uma explicação global que integra as condições das quais dependem.
Em primeiro lugar, é necessário que a informação proporcionada ao professor consiga modificar realmente sobre o aluno ou alunos implicados.
Em segundo lugar, e supondo que se tenha conseguido efetivamente modificar a representação do professor a seu rendimento.
Em terceiro lugar, é necessário que o professor modifique seu comportamento em função disso. A tudo isso, continua Gilly, seria ainda necessário acrescentar que podemos realmente medir com precisão as mudanças que produzem no rendimento dos alunos, além de medidas grosseiras sobre o maior ou menor volume de aprendizagens realizadas. Hargravs (1977) chamou a atenção sobre dois fatores que, em sua opinião, podem determinar a reação dos alunos diante das expectativas dos professores, em conseqüência, os efeitos das mesmas. Jussim (1986) é o responsável por uma das tentativas mais globais de integração dos diferentes fatores que condicionam os efeitos das expectativas em educação.
A partir da análise de algumas tentativas prévias que perseguem a mesma finalidade, o autor propõe um modelo que contempla o processo das expectativas em três fases: os professores desenvolvem expectativas; os professores proporcionam um tratamento educativo diferente aos alunos, em função de suas expectativas; os alunos reagem aos diferentes tratamentos educativos de tal maneira que confirmem as expectativas dos professores. O interesse do modelo de Jussim reside, entre outras coisas no fato de que postula a existência de mecanismos causais no fato de que postula a existência de mecanismos causais subjacentes das expectativas, assim como os fatores que possam limitar sua aparição. Para isso, não apenas integra contribuições realizadas a partir das diferentes perspectivas teóricas que trataram de explicar o fenômeno das expectativas senão inclui propostas que têm sua origem em diversos campos da psicologia social, da psicologia do desenvolvimento, da psicologia da personalidade e da psicologia da educação.
O modelo possui três fases. Na primeira fase, os professores desenvolvem expectativas sobre o rendimento futuro dos alunos. A segunda fase do modelo refere-se às no tratamento educativo que os professores proporcionam aos alunos, em função das expectativas que têm sobre seu rendimento. Na terceira fase, os alunos reagem aos diferentes tratamentos educativos recebidos mediante uma maior ou menor atenção, participação, persistência. O modelo de Jussim é paradigmático, em um triplo sentido. Em primeiro lugar porque integra boa parte dos conhecimentos acumulados durante as três últimas décadas sobre os efeitos das expectativas na educação escolar, num esquema explicativo do conjunto. Em segundo lugar, o modelo de Jussim mostra como a interpretação dos resultados obtidos, em uma parcela relativamente restrita da pesquisa psico-educativa pode ser enriquecida e matizada mediante a incorporação de contructos explicativos surgidos entre outras parcelas da pesquisa e do conhecimento psicológico educativo, ressaltando assim, a exigência de uma coordenação crescente entre todas elas. Por último, o modelo reflete, em um âmbito concreto, e a propósito de uma temática particular, uma tendência compartilhada pela Psicologia da Educação em seu conjunto.
Referencias bibliográficas:
COLL César, Jesús Palácios e Álvaro Marchesi. Desenvolvimento psicológico e educação. Psicologia da educação. Volume 2. editora Artes m´edicas sul ltda. Porto Alegre, 1996.
COLL César, Mariana Minas Mestres e Javier Onrubia.Psicologia da educação. Volume 2. editora Artes m´edicas sul ltda. Porto Alegre, 1996.
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