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quarta-feira, 25 de abril de 2012
A interação professor/aluno no processo de ensino e aprendizagem
César Coll e Isabel Sole:
O professor ideal, dar conta do clima sócio-emocional da classe, identificar estilos e suas repercussões sobre a aprendizagem, determina os comportamentos do professor que definem um ensino eficaz, etc... A psicologia cognitiva, e mais concretamente a teoria genética de Piaget, com sua insistência sobre a importância da atividade construtiva no processo de aprendizagem, a aproximação sócio-genética e sócio-cultural de Vygostsky e suas extensões recentes no âmbito da psicologia do desenvolvimento e da educação, e a aproximação sociolingüística ao estudo dos processos de ensino e a aprendizagem. Entre outras conseqüências esta reconceitação levou a situar o estudo da interação educativa no centro dos esforços para compreender a natureza dos processos de mudanças produzidos pelas situações escolares de ensino e aprendizagem.
1 – o estudo da interação professor/aluno: perspectiva histórica. Um exemplo típico desta aproximação é o conhecido trabalho de Ryans (1960), no qual são relacionadas determinadas atitudes e características da personalidade do professor (parcila/justo,estereotipado/original,desorganizado/metódico, etc...). Em primeiro lugar, as limitações do “modo de caixa negra” de pesquisa que utilizam: são estabelecidas relações causais entre determinadas características do professor e a consecução de bons resultados por parte dos alunos. Tratam-se dos sistemas de observação sistemas de observação sistemática que proliferam nas décadas seguintes e que são ainda freqüentemente utilizadas na atualidade. Trata-se definitivamente de saber se a maneira de ensinar está relacionada significante com os resultados obtidos pelos alunos, de tal forma que seja possível mostrar que determinadas formas de questionar o ensino são melhores e mais desejáveis que outras.
1.1 – Os sistemas de categorias para a análise da interação aparecem deste modo como instrumentos susceptíveis de descrever o que ocorre na aula, da forma mais objetiva e asséptica possível. Flanders (1977) assinala que a utilização dos diferentes sistemas de categorias se reduz a um processo de codificação e decodificação. A tarefa do observador, convenientemente treinado, consiste em codificar os eventos que ocorrem na aula na categoria correspondente do sistema, seja atendendo a uma unidade de tipo temporal, por exemplo, registrando a cada três segundos os comportamentos observados - seja atendendo a uma unidade natural, de conduta – por exemplo, todas as aparições de determinado comportamentais. A decodificação tem lugar mediante a precisão inversa: um analista, que pode ter efetuado ou não a observação e o registro, interpreta os dados, considerando sua configuração global e os pressupostos teóricos, implícitos e explícitos, utilizados para o estabelecimento das categorias. Entre as fontes potenciais de subjetividade, o próprio observador é considerado como o mais importante, pois é ele quem decide a que categorias pertencem os comportamentos observados.
1.2 – Assim, Simon e Boyer (1967), em uma obra clássica, que compila e revisa mais de cem sistemas de categorias diferentes, afirmam que estes encontram-se mais centrados sobre “pequenos fragmentos de ação ou de comportamento que sobre conceitos globais”. Deste modo, por exemplo, no sistema de observação da interação de Flanders (1977), as categorias “aceita sentimentos dos alunos”, “elogio ou estimula e” aceita ou utiliza idéias dos alunos” são indicadoras de uma “influencia indireta do professor; enquanto que as categorias” “formula perguntas”, expõe e explica e critica ou justifica sua autoridade, são de uma influência direta.
1.3 As limitações inerentes ao paradigma de pesquisa educacional “processo-produto” e as objeções que formulamos aos sistemas de categorias, como instrumento de analise da interação. A primeira é que a aprendizagem escolar é sensível à quantidade de tempo que os alunos dedicam as tarefas acadêmicas. A segunda indica que estes aprendem mais quando seus professores estruturam o novo conteúdo a ser assimilado, ajudando-os a relacioná-lo com aquilo que já sabem, controlam suas realizações e proporcionam as correções necessárias nas atividades de prática e aplicação independente, sejam individuais ou coletivas. Estes aspectos, juntamente com outras também ignoradas na perspectiva clássica, aparecem como eixos estruturadores de um enfoque diferente sobre a interação educativa.
2 – Rumo a uma nova conceituação da interação professor/aluno. Após algumas décadas, em que o estudo da interação professor/aluno está presidido pela preocupação de identificar as chaves da eficácia docente e pela exigência de objetividade na categorização do comportamento, o interesse é deslocado para o processo de interação e para os fatores de diferente natureza que nele convergem. Referindo-se à crescente importância outorgada à atividade construtiva dos alunos na aprendizagem escolar; à maneira de entender o papel do professor na aparição, manutenção e orientação da atividade construtiva dos alunos; e a consideração da estrutura comunicativa e do discurso educacional como um dos elementos básicos para compreender os processos de interação professor/aluno.
2.1 – Estes esforços receberam um considerável impulso nos últimos anos, como conseqüência da revitalização, aprofundamento e extensão das idéias expostas por Vygotsky há mais de meio século. Para Vygotsky, a educação é uma das fontes mais importantes do desenvolvimento onto genético nos membros de espécie humana. O desenvolvimento que os seres humanos experimentam, desde o nascimento até a morte, é antes um produto e não tanto um requisito da aprendizagem e da educação, contrariamente ao que se postula de outros enfoques teóricos. E é, sobretudo, um produto das interações que se estabelecem entre o sujeito que aprende e os agentes mediadores da cultura, entre os quais os educadores (pais, professores, etc...) ocupam um lugar essencial. Estas idéias são traduzidas nos postulados nucleares da explicação Vygotkyana: a lei da dupla formação dos processos psicológicos superiores e a educação como força criadora e impulsionadora do desenvolvimento. A influencia educativa, do ponto de vista da analise da interação educativa, o problema consistira; em indagar “como a interação social, nível de funcionamento interpsicológico, pode conduzir à realização independente de problemas, em nível intrapsicológico”.
2.2 – A aproximação sociolingüística ao estudo dos processos de ensino e aprendizagem. Mesmo que o paradigma processo-produto tenha sido a tradição dominante na pesquisa educativa e tenha presidido a maioria dos estudos sobre a interação professor/aluno, que correspondem a pressupostos epistemológicos e metodológicos totalmente distintos. A idéia básica é a de que a aula configura um espaço comunicativo regido por uma série de regras básica, cujo respeito permite que os participantes, ou seja,, o professor e os alunos, possam comunicar-se e alcançar os objetivos a que se propõem. São dois os elementos identificados como essenciais na construção dos contextos de nteração na sala de aula. Por outro lado, a estrutura de participação que seja feito pelo professor e pelos alunos, a seus direitos e obrigações no transcurso das atividades (quem pode fazer ou dizer, o quê, quando, como, com quem, onde, com que objetivo). Por outro lado, a estrutura de conteúdo ou estrutura acadêmica, que se refere ao conteúdo da atividade escolar e á sua organização.
3 – Desafios atuais no estudo da interação professo/aluno. A reconceitação dos processos interativos entre o professo e os alunos, segue-s, de forma mais ou menos automática, um determinado resultado de aprendizagem, a influencia educativa dos professores é exercida por meio de um processo muito mais complexo. Por um lado, a atitude construtiva do aluno é um fator determinante da interação; por outro, temos a atividade do professor e sua capacidade para orientar a atividade do aluno, no sentido da realização das aprendizagens escolares. Porém a mudança á qual aludimos supôs também situar o estudo da interação professor/aluno no próprio cerne dos esforços para compreender a natureza das mudanças educativas e sua relação com os processos de aprendizagem e de desenvolvimento. A interação professor/aluno aparece, na atualidade, como um desses campos privilegiados de estudo e de pesquisa, nos quais convergem contribuições e propostas ignoradas mutuamente durante muito tempo e que podem dar lugar a verdadeiros saltos qualitativos na compreensão do comportamento humano. Isto é, ao menos, o que nos é sugerido pelos esforços atuais, orientados com vistas a elaborar uma explicação convincente e empiricamente fundamentado dos mecanismos de influencia, a partir do estudo da interação professor/aluno.
Referencias bibliográficas:
COLL César, Jesús Palácios e Álvaro Marchesi. Desenvolvimento psicológico e educação. Psicologia da educação. Volume 2. editora Artes m´edicas sul ltda. Porto Alegre, 1996.
COLL César, Mariana Minas Mestres e Javier Onrubia.Psicologia da educação. Volume 2. editora Artes m´edicas sul ltda. Porto Alegre, 1996.
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