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segunda-feira, 28 de março de 2011

Resenha

Vidas Secas

Segundo Afrânio Coutinho, Graciliano Ramos faz parte do grupo de romancista do Nordeste, que tinha por objetivo destacar a problemática da terra e fazer uma denúncia social, trazendo para essa realidade concepções unânimes na acusação de injustiça e desagregação humana. Para o autor a obra de Graciliano Ramos encerra problemas de construção típicos que lhe realizam a ficção, ampliada continuamente, onde recursos artesanais são solicitados a fim de corporificar vivencias e projetos de seu universo interior. Vidas secas trata-se de uma obra denunciadora e angustiada, que procura auscultar constante do intercâmbio humano, em um regionalismo nem um pouco reduzitivo e sim aberto para conter toda a experiência vital. A reiteração e ampliação de um recurso técnico específico, isto é, um romance dentro de outro, é decorrente das possibilidades que vislumbra em acercar-se mais e tentar comunicar toda problemática de sua concepção.
Vidas secas é um romance do sertão, e mais do que isso, insiste no ciclo da seca, já bastante explorado. É dentro dela que se movem circularmente os personagens Fabiano, Sinhá Vitória, os dois meninos e Baleia. É um romance duro e seco como a terra que retrata, mas não traz a carga de amargura e pessimismo dos livros anteriores. O contato mais direto com o primitivo, com os imperativos básicos de sobrevivência, talvez seja o fator dessa abertura, deixadas de lado as ideações dos personagens semicultos anteriores.
Em Vidas Secas temos a presença de um narrador onisciente que não abusa do poder de tudo saber, controlando-se com freqüência no emprego do discurso indireto livre. Esse romance se conserva com um tipo distinto de construção a característica da estória dentro da estória. Apenas não temos aqui um pseudo-autor presente a escrever o que lhe aconteceu: é substituído por um narrador encadeando proto-estórias numa narrativa mais ampla, independentes na maioria. Elas mantêm sua unidade e sentido completo no fato de os personagens serem comuns e os acontecimentos ordenados em uma fluida idéia temporal de sucessão. As narrativas autônomas possuem um dupla função na sintaxe narrativa: captam formalmente a fragmentação do mundo em que deambulam os personagens e, simultaneamente, representam as relações humanas, não interrompendo a linhagem de indagações em que Graciliano Ramos se debruçara. Consegue com isso explorar planos de realidade distintos, significantes totalmente dispares quando relacionados entre si. Em treze capítulos, cujos títulos anunciam o que se passa, temos nove que tratam alternadamente de Fabiano, Sinhá Vitória, dos meninos e da Baleia, trazendo quase sempre os mesmos problemas e as mesmas atitudes vistos porém do ponto de vista de cada um.
Sinhá Vitória, no capítulo de mesmo nome, tem seu ideal voltado para a cama de lastro de couro. Enquanto isso o menino mais novo, no capítulo também do mesmo nome, tem no pai seu ponto ideal de referência. Baleia no mesmo nível dos humanos, também tem seus sonhos. Observa-se no romance um repetição de padrões narrativos chaves, modificados apenas no nível em que se apresentam: ora no nível dos principais núcleos narrativos, ora no dos personagens, ora no da narração. Com isso a realidade é uma e compósita simultaneamente.
É Fabiano o grande centro de interesse do romance. Nele estão contidas todas as possibilidades dos outros personagens e também todas as impossibilidades. É sobretudo o intérprete mais freqüente dessa situação tão próxima a animalidade: ao julgar-se um bicho, não poderia receber maior elogio pois a vida em tais condições era um desafio constante. O tema da injustiça social, da submissão pela força é explorado ora no entrechoque Fabiano – soldado amarelo, ora Fabiano – latifundiário. A exploração do homem do campo é apontada nas cenas da ignorância simples do sertanejo constantemente confundido por “juros e prazos” ou impostos a apagar. Fabiano é a imagem da terra que pisa, é um ser ilhado pela incapacidade de verbalização dos próprios pensamentos. Graciliano constrói nele e em sua família seres estacionados no nível operatório concreto da inteligência, percebendo o mundo através das sensações diretas. Essa captação da marginalidade lingüística de Fabiano é uma das chaves do romance.
A tensão do romance é controlada pelo ritmo de expectativa na tácita ou direta referencia a volta da seca. Assim, utilizando-se de pequenas narrativas isoladas, Graciliano Ramos delineia e traz a tona os traços mais importantes de sua visão do problema rural, do complexo homem – terra – sociedade, escolhendo como campo de amostragem a unidade nuclear familiar e a situação típica: a seca.

COUTINHO, Afrânio dos Santos. A Literatura no Brasil – Era Modernista. São Paulo: Global Editora e Distribuidora LTDA, 1996.

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