Estado, mídia e identidade: políticas de cultura no Nordeste contemporâneo.
de Alexandre Barbalho
por Dilmara Gomes dos Santos
No seu artigo Estado, Alexandre Barbalho inicia seu discurso deixando claro que não se pode pensar em região apenas como espaço definido por uma geografia física, nem tão pouco definir espaço simplesmente como uma geografia humana, no entanto esses conceitos vão muito além dessas barreiras e envolve jogos de interesses.
O artigo propõe mostrar a construção da identidade nordestina sob a visão da mídia e do Estado, fazendo primeiramente uma análise da criação da nordestinidade em um período compreendido entre 1910 e 1960, fala sobre Durval Albuquerque Júnior, Joaquim Nabuco, Euclides da Cunha, Lourenço Filho, Gilberto Freyre, figuras que teceram comentários e com os mesmos contribuíram para a construção desta nordestinidade. Já na segunda parte do seu artigo Alexandre Barbalho aborda a permanência desta construção identitária que ganhou forças nos anos 90 pelos governos da Bahia, de Pernambuco e Ceará.
A questão do referencial nordestino não ter sido construído por si e sim pelo imaginário sulista, principalmente São Paulo, que sempre demonstrou uma relação de supremacia, onde tudo do Sul era melhor, é abordada de uma maneira onde o autor deixa claro que o nordeste não pôde mostrar realmente o que tinha para oferecer, o discurso sulista é tão forte que para o nordeste só resta submeter-se e aceitar o que lhe é imposto.
As imagens discursivas sobre o Nordeste, postas em ação pela imprensa paulista nas primeiras metades do século XX, em especial pelo jornal O Estado de S. Paulo, qualificam a região como atrasada, rural, bárbara, assolada permanentemente pela seca, servil, ignorante. Em contraposição, o Sul do pais (da Bahia ao Rio Grande Sul) é a terra da abundancia , do progresso, de uma geografia humana e física generosa.
Para demonstrar a força exercida pela mídia, o autor traz como exemplos três episódios que ocorreram no que hoje é configurado como região Nordeste e que foi mostrada de uma maneira com que o sulista superior ao nordestino tomasse como exemplo algo que não deveriam ser:
A seca de 1877-79, tida como a pior do século, foi noticiada pelo jornal carioca Gazeta de Noticias de uma forma em que o fato ganhou maior proporção que o necessário, já às matérias sobre Canudos e Padre Cícero, publicadas pelo O Estado de S. Paulo não foram retratadas com o real propósito desejado por cada uma dessas revoluções, enfatizando o lado tido como negativo, mostrando a pobreza da região e as manifestações de natureza violenta, o fanatismo religioso e as barbáries nordestinas.
Para um estado em construção essas referências negativas ficaram impregnadas no Nordeste, mesmo quando o estado tentou levantar a bandeira do regionalismo, elegendo o saudosismo e a tradição como lema, fazendo com que os romancistas da época se utilizassem deste tema para vender uma imagem de um “Brasil profundo”, as figuras negativas continuavam presentes em todo o imaginário, as pessoas que compravam essas obras eram da elite e tinham curiosidade em conhecer o pitoresco.
Em contra partida o autor traz escritores como Jorge Amado e Graciliano Ramos, o pintor Cândido Portinari e ainda Dorival Caymmi que não tinham interesse em continuar mostrando os nordestinos de uma maneira submissa, é possível comparar essa submissão à mesma que os portugueses quiseram impor aos índios no momento do descobrimento, impondo seus costumes e cultura e fazendo com que os índios acreditassem que sua cultura era inferior.
Logo após mostrar como se constitui a identidade do nordeste nos anos compreendidos entre 1910 até 1960 Alexandre Barbalho aborda algumas questões, segundo o mesmo é necessário muito mais estudo para serem sancionadas e prefere abordar a questão das políticas dos estados mais ricos e populosos do Nordeste o Ceará, Pernambuco e a Bahia lidaram com a questão da identidade regional.
Na Bahia o autor abordou a questão da “baianidade” que já foi traçada quando Salvador era a capital do Brasil, trata do movimento tropicalista e ainda mostra que o poder público trata cultura e turismo na mesma esfera, pois até mesmo a secretaria é unificada. A Bahia é tida como a terra de encantos, do povo acolhedor, retrato pintado até mesmo pelo secretário de cultura e turismo, o olhar dos de fora que já vêem a Bahia como o “paraíso tropical”, lugar para se divertir e não para trabalhar é reforçado pelos da terra que querem essa marca para reforçar o mercado turístico.
Já em Pernambuco a construção do Nordeste ibero-barroco nossa anos 70 ganha força quando Ariano Suassuna é nomeado secretário de cultura (1995-98) o mesmo queria mostrar o Brasil real elegendo as figuras do Chico Américo e a violeira Mocinha de Passeira, seria necessário olhar essas figuras e aprofundar-se no que elas significavam.
Para a questão relacionada ao Ceará o autor aborda a questão da migração da força bruta para a força intelectual.
Alexandre Barbalho conclui seu artigo mostrando que se foi construída uma identidade nordestina entre os anos de 1910 e 1960 a mesma permanece muito forte nas construções discursivas da industria cultural e da mídia.
Ao contrário do que podia ser feito as Secretarias de Cultura dos estados citados no artigo, permaneceram com os mesmos ideais identitários gerados há mais de cinqüenta anos, não questionando essa identidade, mesmo por viés diferentes os três estados tentaram manter-se no imaginário nacional com o espaço da tradição.
O artigo abordou o impacto projetado pela imagem trazido do “Outro” para o ‘Eu”, mostra o quanto esses referenciais podem ser prejudiciais e também quando o “Eu” simplesmente aceita essas projeções corre o risco de assumir a identidade imposta pelo “Outro”.
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Concordo com a linha de pensamento do professor Alexandre Barbalho, quando ele diz que não se define a região somente por interesses geográficos. Existem também interesses em reter os avanços financeiros e estruturais de uma determinada região dentro dela e/ou, manter a miséria sempre assegurada do outro lado do muro.
ResponderExcluirÉ verdade que sofremos com a seca, porém não quer dizer que sejamos piores ou que devemos ser diminuídos por conta da nossa condição climática. Somos tão capazes quanto os sulistas.
As limitações expostas pelas fronteiras e/ou divisa entre os estados na maioria das vezes "quebram" a obrigação da responsabilidade civil entre as pessoas.
Como nordestino acredito plenamente no material humano que dispomos na nossa região. Mas a nossa seca nos castiga sol a sol não nos dando condições de avanços dignos já que a nossa maior fonte de renda vem dos rios e da terra. Sem contar com a verdadeira ajuda dos nossos irmão brasileiros por conta das repartições geográficas no nosso mapa, desta forma torna-se difícil tentar outras alternativas. Sendo assim, devemos aturar publicações como essas que o autor cita:
A seca de 1877-79, tida como a pior do século, foi noticiada pelo jornal carioca Gazeta de Noticias de uma forma em que o fato ganhou maior proporção que o necessário, já as matérias sobre Canudos e Padre Cícero, publicadas pelo O Estado de S. Paulo não foram retratadas com o real propósito desejado por cada uma dessas revoluções, enfatizando o lado tido como negativo, mostrando a pobreza da região e as manifestações de natureza violenta, o fanatismo religioso e as barbáries nordestinas.
Para um estado em construção essas referências negativas ficaram impregnadas no Nordeste, mesmo quando o estado tentou levantar a bandeira do regionalismo, elegendo o saudosismo e a tradição como lema, fazendo com que os romancistas da época se utilizassem deste tema para vender uma imagem de um “Brasil profundo”. As figuras negativas continuavam presentes em todo o imaginário, as pessoas que compravam essas obras eram da elite e tinham curiosidade em conhecer o pitoresco.
Em contra partida o autor traz escritores como Jorge Amado e Graciliano Ramos, o pintor Cândido Portinari e ainda Dorival Caymmi, que não tinham interesse em continuar mostrando os nordestinos de uma maneira submissa, é possível comparar essa submissão à mesma que os portugueses quiseram impor aos índios no momento do descobrimento, impondo seus costumes e cultura, fazendo com que os índios acreditassem que sua cultura era inferior.
Com tudo temos a nossa própria identidade, conhecemos a nossa história, as nossas dores e delícias nos ensinaram a superar todo, e qualquer obstáculo imposto pelas garras das provações a um povo de fé.
Aprendemos que somos os senhores dos nossos próprios destinos e agradecemos a Deus e aos Santos por mais um dia vivido com dignidade.
João Batista(Turma 38 ITEBA)
Face - Manteiga Capoeira
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