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segunda-feira, 28 de março de 2011

A CIDADE E A PERSPECTIVA DE MUDANÇA ATRAVÉS DA UTOPIA DE NOVOS GORVENANTES: Um estudo sobre “Canto Quase Gregoriano” de José Carlos Capinan

José Carlos Capinan, baiano nascido na cidade de Esplanada, é conhecido como um dos grandes letristas de sua geração participou ativamente do movimento tropicalista no fim da década de 60. Movimento este que tinha por base a tentativa de revelar as contradições próprias da realidade brasileira teve como lideres nomes hoje muito conhecidos como Gilberto Gil e Caetano Veloso, tidos como lideres do movimento, juntamente com Torquato Neto, Gal Costa, Tom Zé, o maestro Rogério Duprat, Nara Leão e mais, buscavam incorporar à MPB elementos da música pop, sem esquecer aqueles nomes que prestaram um importante papel no movimento evolutivo da nossa música.
O movimento não se limitava simplesmente ao âmbito musical, foi um comportamento adotado por todos os gêneros artísticos. Poeta desde a adolescência, José Carlos Capinan, mudou-se para Salvador aos 19 anos, onde iniciou o curso de Direito, na Universidade Federal da Bahia. Militante fervoroso do CPC (Centro popular de Cultura) da UNE (União Nacional dos Estudantes), fez logo amizade com Caetano Veloso e Gilberto Gil, na época cursando, respectivamente, as faculdades de Filosofia e de Administração de Empresas. Com o golpe militar, em 1964, é forçado a deixar Salvador e vai morar em São Paulo, onde inicia os primeiros poemas de seu livro de estréia, “Inquisitórial”. Retorna à capital baiana, e cursa medicina, profissão que chega a exercer por algum tempo. Ao mesmo tempo se debruça sobre a poesia e participa do primeiro disco de Gilberto Gil, em 1966, dividindo a parceria na faixa “Viramundo”. No mesmo ano, sua música “Canção para Maria”, defendida e composta em parceria com Paulinho da Viola, é um dos destaques do II Festival de Música da Record, obtendo a terceira colocação. Torna-se um dos mais assediados letristas da época e vence com Edu Lobo o Festival da Record de 1967, com a canção “Ponteio”. Novamente em parceria com Gil compõe “Soy Loco por Ti, América”, e integra o histórico disco “Tropicália” (68), ao lado de Caetano, Gil, Mutantes, Gal Costa, Tom Zé, Rogério Duprat e Torquato Neto. Ainda faz parcerias com grandes nomes da música, como Jards Macalé (em “Gotham City”, vaiadíssima no IV Festival Internacional da Canção de 1969), Fagner (em “Como se Fosse”) e Geraldo Azevedo (em “For All Para Todos”). Em 2000, compôs a ópera “Rei Brasil 500 Anos” ao lado de Fernando Cerqueira e Paulo Dourado.
A cidade nunca deixou de ser louvada, ora para exaltar a sua grandeza ora para exprimir as impressões pessoais. É esse impacto visual que constituía a primeira tradição a se formar em torno da cidade. As relações dos diversos poetas com a cidade vão se modificando com o decorrer do tempo. A poesia inicialmente representa a natureza, depois passa a representar a cidade sem nenhuma vergonha, havendo nessa nova perspectiva um desejo diante da cidade pelo estético.
Na medida em que introduzimos a modernidade perdemos a natureza, afinal, a cidade configura um novo ambiente para o poeta. Baudelaire é o poeta que reconhece a nova cidade e o homem das multidões, a modernidade para ele é a possibilidade de transformar em poético tudo aquilo de artificial, grotesco e feio. O poeta Capinan habita a cidade e se sente pertencente e incorporado a ela. Ele é o típico homem da multidão, que circula pela rua, se transformando dessa forma em um homem comum. Lançando-se no caos da vida cotidiana recolhe as imagens da cidade a partir de uma nova dimensão do olhar.
O poema Um Canto Quase gregoriano, faz parte do livro Confissões de Narciso publicado em 1995, livro este que traz uma série de poemas que segundo Luis Carlos Maciel na epigrafe do mesmo, mostra desde a preocupação social até os ideais políticos do poeta José Carlos Capinan.
Esse artigo mostra os limites da Salvador que o poeta Capinan contempla, mas aos quais é completamente fiel. É através da literatura que apreendemos a “cidade escondida”, silenciada. Entretanto, a partir da palavra legitimada pela tradição literária, é possível flagrar muito do que preside e produz aquela visibilidade exaltada de Salvador, que ajuda a escondê-la, afinal, as palavras e os autores participam dessa conflituosa construção imaginaria que é a nossa cidade.
Essa tradição de louvor da terra é contrastada com outra que aponta seus defeitos satirizando-a. Um alvo visado pelo poeta foi à limpeza urbana que já era apontada no século XVII por Gregório de Matos Guerra e que percebemos que é um problema que não ficou no passado, mas avançou o presente século. Dessa forma percebemos que o poeta não esta interessado em divulgar os mistérios e belezas e sim relatar os problemas sociais dessa terra que já foi heroína e princesa. A poética de Capinan está mais preocupada em apresentar o cotidiano e os dramas vividos pelos baianos destacando o quadro real do ambiente urbano. É um pretexto para o autor, indiretamente, reiterar as críticas que eram feitas pelos poetas satíricos e cronistas sobre o abandono da cidade pelos políticos que a administravam.
Desde Tomé que a gente paga pra ver
A utopia prevalecer
E as Coréias proliferando
(E certamente não é que falte fé ao baiano)
Continua ele votando
(Mas não passas de um ex-voto do milagre que o demo vem praticando)

Ao desvendar a aventura humana, o escritor se depara com a cidade e seus problemas, conseqüência do impacto da urbanização - industrialização sobre a vida de todos. Escondida em seu enigma, à cidade desafia o escritor a decifrá-la, exigindo dele um olhar que veja além das aparências e que toque na alma das ruas.
Assim como Gregório de Matos, Capinan ressalta as desordens, fruto da cobiça material e do enriquecimento fácil e descomprometido de quem pretende apenas usufruir da cidade, seus versos indicam um homem culto, familiarizado com a poesia sua contemporânea, ao mesmo tempo, profundamente imerso no cotidiano da sua cidade. Para a compreensão das produções simbólicas entre imaginário e identidade Capinan tem excepcional importância, porque em seus versos podem ser lidas representações reais de Salvador. O poema “Canto quase Gregoriano” retrata uma cidade degradada, excludente e promíscua, “Os que antes lá roubavam, passaram o ponto aos doutores? Os traficantes trocaram de drogas e os mercadores, vendem outras ilusões, e o amor cotado em dólares?” podendo ser lido como o registro do cotidiano de nossa época, ou seja, uma sociedade ainda marcada por desequilíbrios e desigualdades intensos, através dos seus versos o poeta retrata fielmente temas como a prostituição e o tráfico de drogas, temas que antes não eram abordados em poéticas. Ao falar da cobiça dos governantes, algo extremamente forte na poesia de Capinan por tentar demonstrar seus ideais políticos o poeta faz uma critica ao descaso de todos os governantes que por aqui passaram que ao invés de se preocupar com o bem estar da cidade apenas visavam o enriquecimento, mesmo que isso custasse à degradação e o atraso da cidade.
Seriam traumas, sequelas, dos tantos que endividaram
Tuas tralhas?
Ou será tua sina divina não teres ninguém que te valha
Vestindo gravata ou saia?
Quem te governa, cidade
É a farófia revolucionária ou a direita canalha?
Capinan faz um reconhecimento da dimensão cultural e histórica da cidade da Bahia ao citar em seu poema o pelourinho e a religiosidade dos soterapolitanos, mas as representações recaem sobre os desvãos e recantos sombrios e miseráveis do centro da cidade, iluminados pelos faróis das denúncias engendradas por um narrador porta-voz dos desvalidos. A análise feita pelo poeta faz uma analise da cidade sob a ótica da “cidade real” das mazelas sociais, cuja denuncia constitui um traço contundente desta poesia. Reforça-se aqui que a preferência do escritor é pelo morador do centro e por tudo que esta parte da cidade representa, pois é ela que, efetivamente, detém densos e importantes significados. O poeta relata o estado de abandono e de degradação a que a cidade é arremessada, intensificando a desvalorização econômica e social da cidade – desprezível, abandonada e transformada em zona de degradação e queda, ou seja, encontramos no poema imagens de decadência e nojo, a revelação da Salvador da pobreza, sofredora.
E então, Salvador
Mudaste a cara do Pelô?
Tiraste de lá o povo
Tocas já outro tambor?
Os que antes lá roubavam
Passaram o ponto aos doutores?
Os traficantes trocaram
De drogas e os mercadores
Vendem outras ilusões
E o amor cotado em dólares?

Ao descrever a cidade do Salvador como feia e suja, “Se teus esgotos esgotam, teus cidadãos pacientes, pelo menos uma máxima, aos que vomitam concede, quem maledicente fala, o repto consente, se o meio ambiente exala, é inepta ou inapetente, a gerência da cloaca?, (Ela fede abertamente)”, não encontramos no poeta o desejo de destruir o imaginário criado por Thomé de Souza . Quando se refere ao pelourinho percebemos em certo momento um tom intimista ao reduzir a palavra: “E então, Salvador mudaste a cara do pelô?”, mas se tratando de Capinan, logo notamos a ironia afinal o poeta tem por objetivo denunciar as reformas feitas no bairro de aristocrático que foi no século XVIII, o pelourinho aos poucos se tornou um bairro popular decadente, recuperado, passou a ser atração turística.
Equilibrar aspectos econômicos, culturais e sociais no Pelourinho, eis o novo desafio da formação do projeto de revitalização. Nesta sexta-feira, 16, representantes da Unesco (Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura) fizeram uma visita ao centro histórico de Salvador, a fim de conhecer a realidade local e se inteirar do processo de sustentabilidade, dirigido pelo governo do estado. A meta é tornar o Pelô um bairro sustentável, para que dependa cada vez menos dos subsídios do estado.
Entretanto essas modificações são questionáveis, pois o bairro continua sendo ponto de tráfico de drogas e prostituição, as perspectivas de mudança, entra em choque com a realidade do bairro.
As polícias Civil e Militar deflagraram nesta manhã (19), no Centro Histórico / Pelourinho, a operação Cerco. A ação que conta com 250 agentes da polícia localiza 26 pontos de venda de droga no local. Até agora três pessoas já foram presas, entre elas um homem que usava farda (camisa) da polícia e fazia segurança da boca de fumo. A ação deve continuar até o final da manhã, e uma coletiva deve ser marcada para as 14h. A Secretaria da Segurança Pública atendeu às solicitações da comunidade e montou a operação para desarticular o tráfico de drogas na região.
Os percursos que a literatura do autor oferece levam a dramatização daquilo que frustra a idéia de cidade utópica – moderna, racional e funcional. Aparece em seu poema à proliferação de violência atreladas a cultura do medo, a cidade não é mais o espaço ideal.
A base do poema é a questão da denuncia, gritante em relação ao descaso com a cidade, que ficou esquecida na época da modernização estando atrás das metrópoles como Rio de Janeiro e São Paulo, pois o interesse dos governantes não era realmente a modernização da cidade, Salvador chegou a ser a cidade opulenta e de status privilegiado, entretanto o interesse era continuar com a utopia de uma cidade tradicional, semiparalisada, culturalmente homogênea, permanecendo em seus dias de vagarosa instância da vida urbana pré-industrial. Capinan desconstrói essa utopia, afinal sua leitura estética do espaço urbano vai além das belezas naturais e entra pelo viés do social.
Se aos justos difamas
E alcagüetas
Digam de mim teus ghost writers
Toda maledicência
De mim podes dizer que sou
Teu proxeneta
Já que não podes dizer que sou
Teu poeta
De mim podes dizer que sou
Teu drogado
Já que não podes dizer que sou
Teu advogado
De mim podes dizer que sou
Ressentido
Porque proíbes a esperança
Ao meu partido
Mas deixa ao menos que eu seja
O que o futuro deseja
E o que será a tua estética
Uma nova ética

Ao questionar os valores, o poeta se funde com a cidade e se coloca com personagem partícipe da mesma, observador e por isso detentor de conhecimentos necessários para dar vez e voz aos excluídos.
O poema “Canto Quase Gregoriano” como o titulo já faz menção trata de uma reeleitura de um poema de Gregório de Matos Guerra, de uma maneira mais sutil, sem as palavras de calão que deixou Gregório conhecido como “boca do inferno”, Capinan traz a tona primeiramente a questão da modernização da cidade, e mostra que independente de governo a cidade continua esquecida, ao retratar a distopia o poeta denuncia os descaso dos governantes para com a cidade, além de mostrar seus ideais políticos e esboçar sua preocupação com a questão social “Canto Quase Gregoriano” é um poema que nos faz refletir sobre a situação real de nossa cidade, o poder que temos nas mãos ao eleger nossos políticos e acima de tudo a questão de que quem espera sempre “alcança ou cansa”.

ALVES, Ivia; et al. Leituras Amadianas. Salvador: Quarteto / Casa de Jorge Amado, 2007.

ALVES, Lizir Arcanjo. A cidade da Bahia em verso e prosa.

CUNHA, Eneida Leal. Memorial das declarações das grandezas da Bahia.

GOMES, Renato Cordeiro. A cidade moderna e suas derivas pós-modernas.
José Carlos Capinan. Confissões de Narciso. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira,1995.p.95-101.
REBOUÇAS, Daniel, A Tarde, Representantes da Unesco Avaliam Sustentabilidade no Pelourinho, Salvador, 16 de nov. 2007.

CELESTINO, Samuel, Bahia Noticias, Operação Cerco Desarticula Tráfico de Drogas no Pelourinho, Salvador, 19 de nov. 2008.
Disponível em:
Acesso: 28/11/2008 http://www.biblio.com.br/defaultz.asp?link=http://www.biblio.com.br/conteudo/GregoriodeMatos/GregoriodeMatosGuerra.htm

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