VAMOS DIVULGAR

Mais uma ferramenta para a divulgação de nosso trabalho, professores, pedagogos, psicológos, pais, alunos e todos que acreditam que a educação é a base para a transformação, vamos visitar e fazer sugestões, críticas para continuarmos nessa trajetória e fazer com que os nossos jovens tenham um futuro melhor, que tomem consciência que são capazes de se transformarem em atores principais neste palco que é a vida.







quarta-feira, 29 de junho de 2011

A politica virou ou sempre foi uma palhaçada?

Ontem dia 28 de junho ao assistir uma propaganda de um partido político, fiquei indignada, a mensagem que o deputado federal queria transmitir é extremamente pertinente, ele falava sobre a questão do nepotismo e claro que dizia ser contra, entretanto na propaganda estavam seus pais e a fala era a seguinte: Não se pode empregar parente, por isso pai o senhor vai continuar catando latinha e a senhora mãe, lavando roupa pra fora. Meu Deus eu me pergunto, em um país onde a juventude está cada vez mais esquecendo de cuidar dos seus, um político e digo um deputado federal que ganha tão bem, para se posicionar contra algo, precisa dizer que seus pais deverão continuar em situação subumana, nada contra as pessoas que trabalham com reciclagem, muito menos com as que lavam roupas, entretanto o que questiono e que mesmo sem ter estudado muito o tal deputado está no senado graças aos esforços dos seus pais e que no minímo o discursso deveria ser: Não se pode empregar parente, mais meus pais serão cuidados por mim, podem não ter que trabalhar tanto o quanto fizeram a vida toda, entretanto terão um filho que irá lutar para que as políticas públicas cuidem deles no futuro. Pois se eu fosse deputada federal minha mãe não ia para o senado mais iria ter uma vida muito confortável, e ele ainda diz que já está aprendendo o que um deputado faz, que país é esse!!!
Mas a culpa é de quem? De todos que acham engraçado eleger seus governantes sem nem ao menos saber o que eles pretendem fazer, acho que política deve ser discutida sempre, que os jovens deveriam ter educação política na escola, me questiono a todo o tempo se os valores educacionais, morais e cívicos estão ou sempre foram deturpados, francamente vivemos de uma maneira na qual, assistir um capítulo de uma novela e achar engraçado um corrupto tentar fugir do país, falando mal do mesmo é mais interessante que assistir o horário político e tentar identificar o menos ruim!!!!

terça-feira, 10 de maio de 2011

EM BUSCA DO TOPO NA PIRÂMIDE SOCIAL


Por: Dilmara Gomes


A educação é considerada um poderoso instrumento para um rápido crescimento econômico e para a mobilidade individual, pois é através da mesma que o homem deixa de ser manipulado. Nos países subdesenvolvidos, a crescente industrialização também salientou o papel da educação na mudança social. No período do pós-guerra, especialmente a partir dos fins dos anos 50, muitos países do terceiro Mundo, como, por exemplo, o Brasil, a Argentina, o Peru e o Chile, na América Latina, passaram por um processo de industrialização mais ou menos rápido. Tal processo provocou mudanças sociais e movimentos demográficos tendentes a uma maior urbanização. A educação mostrava-se cada vez mais necessária como meio de integração dos migrantes rurais num meio urbano.
Não tem como desvincular a questão do conhecimento a pirâmide social. “Estamos convencidos de que a mudança histórica em perspectiva provirá de um movimento de baixo para cima, tendo como atores principais os países subdesenvolvidos e não os países ricos; os deserdados e os pobres e não os opulentos e outras classes obesas; o indivíduo liberado partícipe das novas massas e não o homem acorrentado; o pensamento livre e não o discurso único. Os pobres não se entregam e descobrem a cada dia formas inéditas de trabalho e de luta; a semente do entendimento já está plantada e o passo seguinte é o seu florescimento em atitudes de inconformidade e, talvez, rebeldia” (Santos, Milton p.32 ano 1998). Devemos esclarecer algo importante no discurso de Milton Santos, ao tratar da questão voltada para a inconformidade, ele repudia atitudes do tipo: “eu nasci assim e vou morrer assim” ou “a vida é assim não tem mais jeito”, isso não existe, podemos ou melhor devemos buscar sempre algo mais e a educação é uma ferramenta fundamental na busca pela mobilidade social, outro fato importante é quando ele se refere “talvez rebeldia”, não estamos mais na época dos rebeldes sem causa, ao rebelar-se o sujeito tem que está ciente de lutar por ideais conscientes, propósitos definidos, posso citar a fala de um dos meus alunos, através da ferramenta tecnológica, colocou um depoimento em uma rede social “Pra que estudar se o presidente do Brasil nem foi na faculdade”, sim pode não ter frequentado uma cadeira acadêmica entretanto não podemos esquecer que ele sempre teve ideais e nunca desistiu dos mesmo, portanto é muito fácil dizer que o mundo conspira contra nós, ser vitima pode até comover alguns por algum tempo, mas lutar pode te levar até a presidência da república.

segunda-feira, 28 de março de 2011

A CIDADE E A PERSPECTIVA DE MUDANÇA ATRAVÉS DA UTOPIA DE NOVOS GORVENANTES: Um estudo sobre “Canto Quase Gregoriano” de José Carlos Capinan

José Carlos Capinan, baiano nascido na cidade de Esplanada, é conhecido como um dos grandes letristas de sua geração participou ativamente do movimento tropicalista no fim da década de 60. Movimento este que tinha por base a tentativa de revelar as contradições próprias da realidade brasileira teve como lideres nomes hoje muito conhecidos como Gilberto Gil e Caetano Veloso, tidos como lideres do movimento, juntamente com Torquato Neto, Gal Costa, Tom Zé, o maestro Rogério Duprat, Nara Leão e mais, buscavam incorporar à MPB elementos da música pop, sem esquecer aqueles nomes que prestaram um importante papel no movimento evolutivo da nossa música.
O movimento não se limitava simplesmente ao âmbito musical, foi um comportamento adotado por todos os gêneros artísticos. Poeta desde a adolescência, José Carlos Capinan, mudou-se para Salvador aos 19 anos, onde iniciou o curso de Direito, na Universidade Federal da Bahia. Militante fervoroso do CPC (Centro popular de Cultura) da UNE (União Nacional dos Estudantes), fez logo amizade com Caetano Veloso e Gilberto Gil, na época cursando, respectivamente, as faculdades de Filosofia e de Administração de Empresas. Com o golpe militar, em 1964, é forçado a deixar Salvador e vai morar em São Paulo, onde inicia os primeiros poemas de seu livro de estréia, “Inquisitórial”. Retorna à capital baiana, e cursa medicina, profissão que chega a exercer por algum tempo. Ao mesmo tempo se debruça sobre a poesia e participa do primeiro disco de Gilberto Gil, em 1966, dividindo a parceria na faixa “Viramundo”. No mesmo ano, sua música “Canção para Maria”, defendida e composta em parceria com Paulinho da Viola, é um dos destaques do II Festival de Música da Record, obtendo a terceira colocação. Torna-se um dos mais assediados letristas da época e vence com Edu Lobo o Festival da Record de 1967, com a canção “Ponteio”. Novamente em parceria com Gil compõe “Soy Loco por Ti, América”, e integra o histórico disco “Tropicália” (68), ao lado de Caetano, Gil, Mutantes, Gal Costa, Tom Zé, Rogério Duprat e Torquato Neto. Ainda faz parcerias com grandes nomes da música, como Jards Macalé (em “Gotham City”, vaiadíssima no IV Festival Internacional da Canção de 1969), Fagner (em “Como se Fosse”) e Geraldo Azevedo (em “For All Para Todos”). Em 2000, compôs a ópera “Rei Brasil 500 Anos” ao lado de Fernando Cerqueira e Paulo Dourado.
A cidade nunca deixou de ser louvada, ora para exaltar a sua grandeza ora para exprimir as impressões pessoais. É esse impacto visual que constituía a primeira tradição a se formar em torno da cidade. As relações dos diversos poetas com a cidade vão se modificando com o decorrer do tempo. A poesia inicialmente representa a natureza, depois passa a representar a cidade sem nenhuma vergonha, havendo nessa nova perspectiva um desejo diante da cidade pelo estético.
Na medida em que introduzimos a modernidade perdemos a natureza, afinal, a cidade configura um novo ambiente para o poeta. Baudelaire é o poeta que reconhece a nova cidade e o homem das multidões, a modernidade para ele é a possibilidade de transformar em poético tudo aquilo de artificial, grotesco e feio. O poeta Capinan habita a cidade e se sente pertencente e incorporado a ela. Ele é o típico homem da multidão, que circula pela rua, se transformando dessa forma em um homem comum. Lançando-se no caos da vida cotidiana recolhe as imagens da cidade a partir de uma nova dimensão do olhar.
O poema Um Canto Quase gregoriano, faz parte do livro Confissões de Narciso publicado em 1995, livro este que traz uma série de poemas que segundo Luis Carlos Maciel na epigrafe do mesmo, mostra desde a preocupação social até os ideais políticos do poeta José Carlos Capinan.
Esse artigo mostra os limites da Salvador que o poeta Capinan contempla, mas aos quais é completamente fiel. É através da literatura que apreendemos a “cidade escondida”, silenciada. Entretanto, a partir da palavra legitimada pela tradição literária, é possível flagrar muito do que preside e produz aquela visibilidade exaltada de Salvador, que ajuda a escondê-la, afinal, as palavras e os autores participam dessa conflituosa construção imaginaria que é a nossa cidade.
Essa tradição de louvor da terra é contrastada com outra que aponta seus defeitos satirizando-a. Um alvo visado pelo poeta foi à limpeza urbana que já era apontada no século XVII por Gregório de Matos Guerra e que percebemos que é um problema que não ficou no passado, mas avançou o presente século. Dessa forma percebemos que o poeta não esta interessado em divulgar os mistérios e belezas e sim relatar os problemas sociais dessa terra que já foi heroína e princesa. A poética de Capinan está mais preocupada em apresentar o cotidiano e os dramas vividos pelos baianos destacando o quadro real do ambiente urbano. É um pretexto para o autor, indiretamente, reiterar as críticas que eram feitas pelos poetas satíricos e cronistas sobre o abandono da cidade pelos políticos que a administravam.
Desde Tomé que a gente paga pra ver
A utopia prevalecer
E as Coréias proliferando
(E certamente não é que falte fé ao baiano)
Continua ele votando
(Mas não passas de um ex-voto do milagre que o demo vem praticando)

Ao desvendar a aventura humana, o escritor se depara com a cidade e seus problemas, conseqüência do impacto da urbanização - industrialização sobre a vida de todos. Escondida em seu enigma, à cidade desafia o escritor a decifrá-la, exigindo dele um olhar que veja além das aparências e que toque na alma das ruas.
Assim como Gregório de Matos, Capinan ressalta as desordens, fruto da cobiça material e do enriquecimento fácil e descomprometido de quem pretende apenas usufruir da cidade, seus versos indicam um homem culto, familiarizado com a poesia sua contemporânea, ao mesmo tempo, profundamente imerso no cotidiano da sua cidade. Para a compreensão das produções simbólicas entre imaginário e identidade Capinan tem excepcional importância, porque em seus versos podem ser lidas representações reais de Salvador. O poema “Canto quase Gregoriano” retrata uma cidade degradada, excludente e promíscua, “Os que antes lá roubavam, passaram o ponto aos doutores? Os traficantes trocaram de drogas e os mercadores, vendem outras ilusões, e o amor cotado em dólares?” podendo ser lido como o registro do cotidiano de nossa época, ou seja, uma sociedade ainda marcada por desequilíbrios e desigualdades intensos, através dos seus versos o poeta retrata fielmente temas como a prostituição e o tráfico de drogas, temas que antes não eram abordados em poéticas. Ao falar da cobiça dos governantes, algo extremamente forte na poesia de Capinan por tentar demonstrar seus ideais políticos o poeta faz uma critica ao descaso de todos os governantes que por aqui passaram que ao invés de se preocupar com o bem estar da cidade apenas visavam o enriquecimento, mesmo que isso custasse à degradação e o atraso da cidade.
Seriam traumas, sequelas, dos tantos que endividaram
Tuas tralhas?
Ou será tua sina divina não teres ninguém que te valha
Vestindo gravata ou saia?
Quem te governa, cidade
É a farófia revolucionária ou a direita canalha?
Capinan faz um reconhecimento da dimensão cultural e histórica da cidade da Bahia ao citar em seu poema o pelourinho e a religiosidade dos soterapolitanos, mas as representações recaem sobre os desvãos e recantos sombrios e miseráveis do centro da cidade, iluminados pelos faróis das denúncias engendradas por um narrador porta-voz dos desvalidos. A análise feita pelo poeta faz uma analise da cidade sob a ótica da “cidade real” das mazelas sociais, cuja denuncia constitui um traço contundente desta poesia. Reforça-se aqui que a preferência do escritor é pelo morador do centro e por tudo que esta parte da cidade representa, pois é ela que, efetivamente, detém densos e importantes significados. O poeta relata o estado de abandono e de degradação a que a cidade é arremessada, intensificando a desvalorização econômica e social da cidade – desprezível, abandonada e transformada em zona de degradação e queda, ou seja, encontramos no poema imagens de decadência e nojo, a revelação da Salvador da pobreza, sofredora.
E então, Salvador
Mudaste a cara do Pelô?
Tiraste de lá o povo
Tocas já outro tambor?
Os que antes lá roubavam
Passaram o ponto aos doutores?
Os traficantes trocaram
De drogas e os mercadores
Vendem outras ilusões
E o amor cotado em dólares?

Ao descrever a cidade do Salvador como feia e suja, “Se teus esgotos esgotam, teus cidadãos pacientes, pelo menos uma máxima, aos que vomitam concede, quem maledicente fala, o repto consente, se o meio ambiente exala, é inepta ou inapetente, a gerência da cloaca?, (Ela fede abertamente)”, não encontramos no poeta o desejo de destruir o imaginário criado por Thomé de Souza . Quando se refere ao pelourinho percebemos em certo momento um tom intimista ao reduzir a palavra: “E então, Salvador mudaste a cara do pelô?”, mas se tratando de Capinan, logo notamos a ironia afinal o poeta tem por objetivo denunciar as reformas feitas no bairro de aristocrático que foi no século XVIII, o pelourinho aos poucos se tornou um bairro popular decadente, recuperado, passou a ser atração turística.
Equilibrar aspectos econômicos, culturais e sociais no Pelourinho, eis o novo desafio da formação do projeto de revitalização. Nesta sexta-feira, 16, representantes da Unesco (Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura) fizeram uma visita ao centro histórico de Salvador, a fim de conhecer a realidade local e se inteirar do processo de sustentabilidade, dirigido pelo governo do estado. A meta é tornar o Pelô um bairro sustentável, para que dependa cada vez menos dos subsídios do estado.
Entretanto essas modificações são questionáveis, pois o bairro continua sendo ponto de tráfico de drogas e prostituição, as perspectivas de mudança, entra em choque com a realidade do bairro.
As polícias Civil e Militar deflagraram nesta manhã (19), no Centro Histórico / Pelourinho, a operação Cerco. A ação que conta com 250 agentes da polícia localiza 26 pontos de venda de droga no local. Até agora três pessoas já foram presas, entre elas um homem que usava farda (camisa) da polícia e fazia segurança da boca de fumo. A ação deve continuar até o final da manhã, e uma coletiva deve ser marcada para as 14h. A Secretaria da Segurança Pública atendeu às solicitações da comunidade e montou a operação para desarticular o tráfico de drogas na região.
Os percursos que a literatura do autor oferece levam a dramatização daquilo que frustra a idéia de cidade utópica – moderna, racional e funcional. Aparece em seu poema à proliferação de violência atreladas a cultura do medo, a cidade não é mais o espaço ideal.
A base do poema é a questão da denuncia, gritante em relação ao descaso com a cidade, que ficou esquecida na época da modernização estando atrás das metrópoles como Rio de Janeiro e São Paulo, pois o interesse dos governantes não era realmente a modernização da cidade, Salvador chegou a ser a cidade opulenta e de status privilegiado, entretanto o interesse era continuar com a utopia de uma cidade tradicional, semiparalisada, culturalmente homogênea, permanecendo em seus dias de vagarosa instância da vida urbana pré-industrial. Capinan desconstrói essa utopia, afinal sua leitura estética do espaço urbano vai além das belezas naturais e entra pelo viés do social.
Se aos justos difamas
E alcagüetas
Digam de mim teus ghost writers
Toda maledicência
De mim podes dizer que sou
Teu proxeneta
Já que não podes dizer que sou
Teu poeta
De mim podes dizer que sou
Teu drogado
Já que não podes dizer que sou
Teu advogado
De mim podes dizer que sou
Ressentido
Porque proíbes a esperança
Ao meu partido
Mas deixa ao menos que eu seja
O que o futuro deseja
E o que será a tua estética
Uma nova ética

Ao questionar os valores, o poeta se funde com a cidade e se coloca com personagem partícipe da mesma, observador e por isso detentor de conhecimentos necessários para dar vez e voz aos excluídos.
O poema “Canto Quase Gregoriano” como o titulo já faz menção trata de uma reeleitura de um poema de Gregório de Matos Guerra, de uma maneira mais sutil, sem as palavras de calão que deixou Gregório conhecido como “boca do inferno”, Capinan traz a tona primeiramente a questão da modernização da cidade, e mostra que independente de governo a cidade continua esquecida, ao retratar a distopia o poeta denuncia os descaso dos governantes para com a cidade, além de mostrar seus ideais políticos e esboçar sua preocupação com a questão social “Canto Quase Gregoriano” é um poema que nos faz refletir sobre a situação real de nossa cidade, o poder que temos nas mãos ao eleger nossos políticos e acima de tudo a questão de que quem espera sempre “alcança ou cansa”.

ALVES, Ivia; et al. Leituras Amadianas. Salvador: Quarteto / Casa de Jorge Amado, 2007.

ALVES, Lizir Arcanjo. A cidade da Bahia em verso e prosa.

CUNHA, Eneida Leal. Memorial das declarações das grandezas da Bahia.

GOMES, Renato Cordeiro. A cidade moderna e suas derivas pós-modernas.
José Carlos Capinan. Confissões de Narciso. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira,1995.p.95-101.
REBOUÇAS, Daniel, A Tarde, Representantes da Unesco Avaliam Sustentabilidade no Pelourinho, Salvador, 16 de nov. 2007.

CELESTINO, Samuel, Bahia Noticias, Operação Cerco Desarticula Tráfico de Drogas no Pelourinho, Salvador, 19 de nov. 2008.
Disponível em:
Acesso: 28/11/2008 http://www.biblio.com.br/defaultz.asp?link=http://www.biblio.com.br/conteudo/GregoriodeMatos/GregoriodeMatosGuerra.htm

Estado, mídia e identidade: políticas de cultura no Nordeste contemporâneo - resenha

Estado, mídia e identidade: políticas de cultura no Nordeste contemporâneo.
de Alexandre Barbalho
por Dilmara Gomes dos Santos


No seu artigo Estado, Alexandre Barbalho inicia seu discurso deixando claro que não se pode pensar em região apenas como espaço definido por uma geografia física, nem tão pouco definir espaço simplesmente como uma geografia humana, no entanto esses conceitos vão muito além dessas barreiras e envolve jogos de interesses.
O artigo propõe mostrar a construção da identidade nordestina sob a visão da mídia e do Estado, fazendo primeiramente uma análise da criação da nordestinidade em um período compreendido entre 1910 e 1960, fala sobre Durval Albuquerque Júnior, Joaquim Nabuco, Euclides da Cunha, Lourenço Filho, Gilberto Freyre, figuras que teceram comentários e com os mesmos contribuíram para a construção desta nordestinidade. Já na segunda parte do seu artigo Alexandre Barbalho aborda a permanência desta construção identitária que ganhou forças nos anos 90 pelos governos da Bahia, de Pernambuco e Ceará.
A questão do referencial nordestino não ter sido construído por si e sim pelo imaginário sulista, principalmente São Paulo, que sempre demonstrou uma relação de supremacia, onde tudo do Sul era melhor, é abordada de uma maneira onde o autor deixa claro que o nordeste não pôde mostrar realmente o que tinha para oferecer, o discurso sulista é tão forte que para o nordeste só resta submeter-se e aceitar o que lhe é imposto.
As imagens discursivas sobre o Nordeste, postas em ação pela imprensa paulista nas primeiras metades do século XX, em especial pelo jornal O Estado de S. Paulo, qualificam a região como atrasada, rural, bárbara, assolada permanentemente pela seca, servil, ignorante. Em contraposição, o Sul do pais (da Bahia ao Rio Grande Sul) é a terra da abundancia , do progresso, de uma geografia humana e física generosa.

Para demonstrar a força exercida pela mídia, o autor traz como exemplos três episódios que ocorreram no que hoje é configurado como região Nordeste e que foi mostrada de uma maneira com que o sulista superior ao nordestino tomasse como exemplo algo que não deveriam ser:
A seca de 1877-79, tida como a pior do século, foi noticiada pelo jornal carioca Gazeta de Noticias de uma forma em que o fato ganhou maior proporção que o necessário, já às matérias sobre Canudos e Padre Cícero, publicadas pelo O Estado de S. Paulo não foram retratadas com o real propósito desejado por cada uma dessas revoluções, enfatizando o lado tido como negativo, mostrando a pobreza da região e as manifestações de natureza violenta, o fanatismo religioso e as barbáries nordestinas.
Para um estado em construção essas referências negativas ficaram impregnadas no Nordeste, mesmo quando o estado tentou levantar a bandeira do regionalismo, elegendo o saudosismo e a tradição como lema, fazendo com que os romancistas da época se utilizassem deste tema para vender uma imagem de um “Brasil profundo”, as figuras negativas continuavam presentes em todo o imaginário, as pessoas que compravam essas obras eram da elite e tinham curiosidade em conhecer o pitoresco.
Em contra partida o autor traz escritores como Jorge Amado e Graciliano Ramos, o pintor Cândido Portinari e ainda Dorival Caymmi que não tinham interesse em continuar mostrando os nordestinos de uma maneira submissa, é possível comparar essa submissão à mesma que os portugueses quiseram impor aos índios no momento do descobrimento, impondo seus costumes e cultura e fazendo com que os índios acreditassem que sua cultura era inferior.
Logo após mostrar como se constitui a identidade do nordeste nos anos compreendidos entre 1910 até 1960 Alexandre Barbalho aborda algumas questões, segundo o mesmo é necessário muito mais estudo para serem sancionadas e prefere abordar a questão das políticas dos estados mais ricos e populosos do Nordeste o Ceará, Pernambuco e a Bahia lidaram com a questão da identidade regional.
Na Bahia o autor abordou a questão da “baianidade” que já foi traçada quando Salvador era a capital do Brasil, trata do movimento tropicalista e ainda mostra que o poder público trata cultura e turismo na mesma esfera, pois até mesmo a secretaria é unificada. A Bahia é tida como a terra de encantos, do povo acolhedor, retrato pintado até mesmo pelo secretário de cultura e turismo, o olhar dos de fora que já vêem a Bahia como o “paraíso tropical”, lugar para se divertir e não para trabalhar é reforçado pelos da terra que querem essa marca para reforçar o mercado turístico.
Já em Pernambuco a construção do Nordeste ibero-barroco nossa anos 70 ganha força quando Ariano Suassuna é nomeado secretário de cultura (1995-98) o mesmo queria mostrar o Brasil real elegendo as figuras do Chico Américo e a violeira Mocinha de Passeira, seria necessário olhar essas figuras e aprofundar-se no que elas significavam.
Para a questão relacionada ao Ceará o autor aborda a questão da migração da força bruta para a força intelectual.
Alexandre Barbalho conclui seu artigo mostrando que se foi construída uma identidade nordestina entre os anos de 1910 e 1960 a mesma permanece muito forte nas construções discursivas da industria cultural e da mídia.
Ao contrário do que podia ser feito as Secretarias de Cultura dos estados citados no artigo, permaneceram com os mesmos ideais identitários gerados há mais de cinqüenta anos, não questionando essa identidade, mesmo por viés diferentes os três estados tentaram manter-se no imaginário nacional com o espaço da tradição.
O artigo abordou o impacto projetado pela imagem trazido do “Outro” para o ‘Eu”, mostra o quanto esses referenciais podem ser prejudiciais e também quando o “Eu” simplesmente aceita essas projeções corre o risco de assumir a identidade imposta pelo “Outro”.

Resenha

Vidas Secas

Segundo Afrânio Coutinho, Graciliano Ramos faz parte do grupo de romancista do Nordeste, que tinha por objetivo destacar a problemática da terra e fazer uma denúncia social, trazendo para essa realidade concepções unânimes na acusação de injustiça e desagregação humana. Para o autor a obra de Graciliano Ramos encerra problemas de construção típicos que lhe realizam a ficção, ampliada continuamente, onde recursos artesanais são solicitados a fim de corporificar vivencias e projetos de seu universo interior. Vidas secas trata-se de uma obra denunciadora e angustiada, que procura auscultar constante do intercâmbio humano, em um regionalismo nem um pouco reduzitivo e sim aberto para conter toda a experiência vital. A reiteração e ampliação de um recurso técnico específico, isto é, um romance dentro de outro, é decorrente das possibilidades que vislumbra em acercar-se mais e tentar comunicar toda problemática de sua concepção.
Vidas secas é um romance do sertão, e mais do que isso, insiste no ciclo da seca, já bastante explorado. É dentro dela que se movem circularmente os personagens Fabiano, Sinhá Vitória, os dois meninos e Baleia. É um romance duro e seco como a terra que retrata, mas não traz a carga de amargura e pessimismo dos livros anteriores. O contato mais direto com o primitivo, com os imperativos básicos de sobrevivência, talvez seja o fator dessa abertura, deixadas de lado as ideações dos personagens semicultos anteriores.
Em Vidas Secas temos a presença de um narrador onisciente que não abusa do poder de tudo saber, controlando-se com freqüência no emprego do discurso indireto livre. Esse romance se conserva com um tipo distinto de construção a característica da estória dentro da estória. Apenas não temos aqui um pseudo-autor presente a escrever o que lhe aconteceu: é substituído por um narrador encadeando proto-estórias numa narrativa mais ampla, independentes na maioria. Elas mantêm sua unidade e sentido completo no fato de os personagens serem comuns e os acontecimentos ordenados em uma fluida idéia temporal de sucessão. As narrativas autônomas possuem um dupla função na sintaxe narrativa: captam formalmente a fragmentação do mundo em que deambulam os personagens e, simultaneamente, representam as relações humanas, não interrompendo a linhagem de indagações em que Graciliano Ramos se debruçara. Consegue com isso explorar planos de realidade distintos, significantes totalmente dispares quando relacionados entre si. Em treze capítulos, cujos títulos anunciam o que se passa, temos nove que tratam alternadamente de Fabiano, Sinhá Vitória, dos meninos e da Baleia, trazendo quase sempre os mesmos problemas e as mesmas atitudes vistos porém do ponto de vista de cada um.
Sinhá Vitória, no capítulo de mesmo nome, tem seu ideal voltado para a cama de lastro de couro. Enquanto isso o menino mais novo, no capítulo também do mesmo nome, tem no pai seu ponto ideal de referência. Baleia no mesmo nível dos humanos, também tem seus sonhos. Observa-se no romance um repetição de padrões narrativos chaves, modificados apenas no nível em que se apresentam: ora no nível dos principais núcleos narrativos, ora no dos personagens, ora no da narração. Com isso a realidade é uma e compósita simultaneamente.
É Fabiano o grande centro de interesse do romance. Nele estão contidas todas as possibilidades dos outros personagens e também todas as impossibilidades. É sobretudo o intérprete mais freqüente dessa situação tão próxima a animalidade: ao julgar-se um bicho, não poderia receber maior elogio pois a vida em tais condições era um desafio constante. O tema da injustiça social, da submissão pela força é explorado ora no entrechoque Fabiano – soldado amarelo, ora Fabiano – latifundiário. A exploração do homem do campo é apontada nas cenas da ignorância simples do sertanejo constantemente confundido por “juros e prazos” ou impostos a apagar. Fabiano é a imagem da terra que pisa, é um ser ilhado pela incapacidade de verbalização dos próprios pensamentos. Graciliano constrói nele e em sua família seres estacionados no nível operatório concreto da inteligência, percebendo o mundo através das sensações diretas. Essa captação da marginalidade lingüística de Fabiano é uma das chaves do romance.
A tensão do romance é controlada pelo ritmo de expectativa na tácita ou direta referencia a volta da seca. Assim, utilizando-se de pequenas narrativas isoladas, Graciliano Ramos delineia e traz a tona os traços mais importantes de sua visão do problema rural, do complexo homem – terra – sociedade, escolhendo como campo de amostragem a unidade nuclear familiar e a situação típica: a seca.

COUTINHO, Afrânio dos Santos. A Literatura no Brasil – Era Modernista. São Paulo: Global Editora e Distribuidora LTDA, 1996.